sábado, 23 de setembro de 2017

Maconha é vegan {Oberom Om}

Esses dias descendo a Serra da Mantiqueira (“Montanha que chora” - tupi-guarany, fazendo alusão as milhares de nascentes que aqui existem, que até por isso chamamos suas regiões de ‘circuito das águas’), onde nasci e vivo, região sudeste do Brasil, que guarda parte dos 7% que restam da Mata Atlântica (o bioma com a maior biodiversidade do planeta), vinha tentando me desidentificar da dor que sentia pela ignorância, irresponsabilidade, injustiça e muitas outras palavras nesse sentido, diante das atividades econômicas que escolhemos adotar, sem pensar em nada, só no lucro (na verdade hoje vejo que existe aí estratégias políticas, mas deixemos para falar disso em um outro momento).



Além dos quilométricos pastos para a pecuária leiteira e de corte , atividades estas que são as principais causas da destruição da cobertura verde do planeta (também causadoras da maior emissão de gases do efeito estufa, poluição e consumo de água potável do planeta, atividade causadora de fome e danos na saúde humana, além é claro de sua direta ação contra a ética e a degradação de valores universais, devido a exploração animal), que diga-se de passagem, a atividade é também sustentada por muita gente que se diz ecologista e se coloca como zelador do planeta, mas meus olhos entristeciam-se com os “desertos verdes” - florestas de eucalipto, utilizadas principalmente para produção de celulose, atividade que cresce no Brasil, porém de ecológico não tem nada e ousam chamar de reflorestamento.



Você talvez já tenha visto, aquelas grandes extensões homogéneas de árvores, sim, é disso que estou falando. Áreas muito extensas que ficam estéreis, os animais não podem viver pois não tem alimento e outras plantas também não crescem as sombras do eucalipto, não há competição, a árvore cresce muito rápido, além disso deixa o solo ácido e pior... acaba com a água. É uma monocultura de árvores, que tem como finalidade a venda da madeira, na época do corte, ao final de quatro anos, tudo fica devastado. Expõe a terra empobrecida à ação das chuvas, sol e vento (cria-se uma casca dura na terra, impedindo a absorção das águas da chuva, dessa forma não são abastecidos os lençóis freáticos e aquíferos subterrâneos, que permitem o surgimento das nascentes). 

A água então desce lavando as montanhas, literalmente, levando embora seus nutrientes e causando também erosões e dessas vão para os rios sedimentos que causam assoreamento e consequentemente afeta a vida aquática (pastos também são responsáveis por isso). Então comecei a pensar sobre informações que estou lendo esses dias, que ninguém quer muito saber devido ao preconceito plantado nas mentes que pouco cuidam da reflexão, da análise do que chega até nós. Falar sobre alucinógenos dá o maior ibope, mas é extremamente polêmico, especialmente pelo desconhecimento da massa e esses conceitos que fomos obrigados a aceitar, hoje temos várias linhas espirituais que fazem uso de “plantas de poder” e até são aceitos dependendo do que seja, mesmo havendo muito preconceito. 



Desde pequenos aprendemos nomes de “coisas” que chamamos de drogas, que fazem mal, “são do mal”, associadas ao crime, a marginalidade, a destruição do núcleo familiar, a prostituição e muito mais, é para a sociedade a representação da decadência; tudo que a lei disser que é droga, é visto assim. Não nos questionamos sobre as farmácias que temos em cada bairro ou esquina, porque essas são “drogas” legalizadas, então não geram caos social, mas se o dorflex fosse proibido pela lei, ele estaria associado ao crime organizado, a super lotação das penitenciárias, tráfico de armas, prostituição, homicídios etc. isso porque ele existe, tem efeito (então as pessoas querem), mas é proibido, então é preciso fazer escondido, é preciso se proteger para fazer escondido, é preciso arrumar dinheiro para manter o esquema que agora também gera lucro e muito, então se a sociedade não me dá emprego porque vim de uma região diferente, porque a tonalidade da minha pele não agrada os ‘olhos doentes’, porque venho de um lugar que não me deu oportunidade de estudar devidamente, então eu acabo me aliando a esse esquema, afinal de contas preciso comer e dar aos meus filhos o que comer. E nem sempre penso que pode ter outro caminho, pois mesmo fazendo tudo dentro da lei, as autoridades da lei me tratam como se estivesse fora dela.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, um preso gasta mais dinheiro do que a mensalidade de uma faculdade, mas ao invés de recuperá-lo e educá-lo dando-lhes condições de se reintegrar a sociedade, o cárcere o profissionaliza ao crime. O Brasil tem a taxa de crescimento carcerário mais veloz do mundo. Mas e aí, o pais está melhorando com isso? Estamos tendo mais segurança assim? Menos violência? Em sua maioria são jovens pobres, frequentemente negros, que são presos em flagrante por estarem trocando substâncias ilícitas, sem porte de armas, sem violência e na maioria das vezes sem vínculo com organizações criminosas. Então são depositados em sucursais onde estarão junto aqueles que já desenvolvem uma carreira criminosa. E depois de suas penas cumpridas (às vezes presos por 6 anos a espera de um julgamento, para então ser sentenciado a um ano e meio de prisão), saem revoltados com o sistema e agora sabendo como manejar uma arma, sabendo como se "defender" pra sobreviver, sabendo como é o esquema que vai permitir ganhar muito mais, mesmo se valendo de violência. A reincidência está em 70% dos presos, porém de forma mais violenta e causando mais danos. Se a maconha fosse legalizada, teríamos menos da metade da população carcerária do país, com isso muito menos violência, muito menos crimes, menos armas... mas a crença coletiva é: coloque mais polícia, mais polícia, mais polícia (então quando vãoreivindicar alguma coisa do Estado tomam bala de borracha).



A proibição das drogas é o que alimenta o tráfico de drogas, com todas as suas problemáticas. A cocaína já foi vendida nas farmácias, a maconha em vários lugares do mundo é vendido como remédio, não causando qualquer dano a sociedade, por ser legal, por haver controle de qualidade. Aí algumas pessoas vão ler horrorizadas “Oberom, você falando de descriminalizar as drogas!?!”, bom, sim eu, uma pessoa que não faz uso, que não concorda com o uso de várias substâncias e que reconhece os benefícios de outras em determinados casos. Mas eu falava dos eucaliptos, então lembrei de uma informação que dizia: que em um hectare de maconha se pode colher quatro vezes mais celulose que se aquele espaço fosse plantado eucalipto e isso em apenas quatro meses, diferente dos quatro anos do eucalipto. Otimizaríamos muito a terra, sem lhe causar tanto dano. É tão lógico, mas... As pessoas ignoram soluções tão reais simplesmente porque “é proibido”, que seja liberado então! Mas não, a crença da massa já está afetada “é do mal”. Mas e se tirássemos oxitocina das mulheres e vendêssemos as escondidas para levar jovens ao delírio, teríamos então que matar todas as mulheres para acabar com essa droga? As mulheres seriam consideradas do mal? Representaria um risco a sociedade (Do jeito que o sistema é machista não duvido de nada...)?



Crianças com ataques epiléticos, que ficam convulsionando, precisam esperar importação (quando conseguem) de canabidiol para se curar, sim, substância que vem da cannabis, da maconha. Centenas de outras doenças são curadas por essa planta, que é só uma planta, não é um monstro. Talvez o exemplo da mulher que coloquei a cima seja muito forte, mas se fosse uma substância tirada de um animal, a sociedade aceitaria que exterminasse aquela espécie, sim, é o que fazem com a ideia sobre essa planta. O mal não é a planta, é a educação em como utiliza-la que falta, vão ter os que usam recreativamente, sim, mas e aí? O álcool não é liberado? E além disso a única função dele é o “lazer”, não traz qualquer outro benefício (a maconha não é a porta de entrada para o uso de drogas, é o álcool).

E em termos de efeito, gera muito mais risco a sociedade do que a maconha (acidentes no transito, violência no lar, sirose...) a maconha é zero em relação a isso, mas o álcool é liberado, então ele não tem relação com o crime organizado, com o tráfico de armas, com mortes e cadeias superlotadas (já esteve, a Lei Seca nos Estados Unidos de 1919, durou 14 anos e gerou todos os estragos sociais que qualquer droga proibida gera, Al Capone era um traficante de bebida destilada por exemplo, usaram armas, mataram pessoas...). Mas a opinião popular tem horror a palavra maconha, as pessoas nem param para questionar o por que dela ter sido proibida, a resposta é clara para todos, ela é uma droga!



Mas por que ela é uma droga? Por que a consideraram uma droga? Não há a legalização, porque boa parte dos nossos representantes tem a mesma crença da massa e outra parte colhe benefícios dessa proibição. A maconha ao contrário do álcool poderia com muito menos espaço produzir alimento altamente nutritivo para milhares de pessoas que passam fome (e isso, sem agrotoxico, sem aditivos, ela é resistente, se adapta muito fácil), sim, alimento, as sementes de cânhamo são consideradas um super alimento, rico de ácidos graxos poliinsaturados considerados essenciais para o funcionamento dos músculos e dos receptores nervosos, como os ácidos linolênico, linoleico e alfa-linolênico. Excelente para sucos verdes, mantém os tecidos rejuvenescidos.



As sementes de cânhamo desprovidas de THC (a substância considerada droga) contêm todos os aminoácidos considerados essenciais para a síntese de proteínas pelo organismo. Elas são uma ajuda na prevenção de colesterol alto, asma, sinusite, artrite, traqueíte e doenças cardiovasculares. Das sementes de cânhamo se pode obter muitos alimentos: óleo de cânhamo, tofu de cânhamo, leite vegetal, chocolate e mais um monte de coisas que vamos encontrar nas prateleiras de supermercados de países desenvolvidos. O óleo prensado a frio é excelente para culinária, traz benefícios ao aparelho cardiovascular. É rico em vitaminas A, E e do complexo B e tem um agradável sabor que lembra avelãs. Sim, eu já provei e não deixo passar em branco quando estou fora do Brasil.



Voltando a Serra da Mantiqueira e os eucaliptos na produção de papel e sua relação com a ignorância humana e os interesses escusos que mantém a massa com crenças infundadas, trago uma vez mais essa ideia, temos meios de acabar com a fome, doenças, pobreza e a destruição do meio ambiente (fundamental para nossa existência), mas ainda se come carne, toma-se leite, consome-se ovos, mesmo já tendo as informações dos malefícios a saúde, mas como as drogas, as pessoas foram treinadas a negar uma dieta vegetariana vegana com as desculpas mais esfarrapadas possíveis, exatamente como é o cenário da maconha, outras similaridades vamos ver, tipo, interesse dos laboratórios em manter a carne e os lacticínios no prato e a maconha proibida, interesse de políticos que ganham rios de dinheiro por manter a pecuária com todos os subsídios do governo e manter a maconha proibida.



Regamos nossas plantações com veneno (um brasileiro toma 5 litros de agrotóxicos por ano), isso contamina nossas águas também. Outro benefício das plantas de cânhamo, podem ser usadas para a recuperação de solos contaminados por metais pesados. Sua raiz é capaz de desempenhar a sua própria capacidade quelante contra contaminantes como arsênio e cobre, assim como contra solventes e pesticidas. Ela é usada para os processos de descontaminação de solos, com especial referência para as áreas degradadas e é uma solução acessível, de baixo custo.

Sei que não é do conhecimento de todos, mas o cânhamo é considerado mais produtivo do que o algodão no que diz respeito às fibras têxteis. Além disso, quanto ao cultivo, o de cânhamo, requer a utilização de pesticidas e fertilizantes decisivamente inferior àquela do algodão. Nas plantações clandestinas que temos hoje, não se usa agrotóxicos, pesticidas, são orgânicos e ainda não fizeram a versão transgênica, ou seja, é super resistente e ecologicamente correto, se trocássemos a pecuária pelo cultivo de cannabis (estou falando sério!), não teríamos que desmatar mais Cerrado, Mata Atlântica e Floresta Amazônica, alimentaríamos muito mais gente com QUALIDADE, geraria muito mais emprego que a indústria destruidora automobilística e traria renda ao pequeno produtor.



O algodão é uma das culturas com fins têxteis de maior impacto ambiental, seja por causa do uso massivo de agrotóxicos que pela utilização dos recursos hídricos. Do cânhamo se obtém fios resistentes que podem ser utilizados para a produção de tecidos mais fortes que o nylon (estou usando uma calça de cânhamo neste momento, super confortável, gostosa, resistente). E quanto ao uso de eucalipto como madeira “de reflorestamento” (que as pessoas acham super vantagem e em termos é, mas não super), o cânhamo pode ser considerado um importante substituto à madeira no âmbito da construção. De fato, do cânhamo é possível produzir tábuas robustas e resistentes, como compensados. Elas são obtidas a partir da utilização de pedúnculos desta planta, que são prensados e montados com a ajuda de uma cola, permitindo obter tábuas mais leves e flexíveis do que as tradicionais de madeira. Cada vez mais utilizado na construção como um substitutivo ao cimento e aos tijolos (em países desenvolvidos). Um exemplo é um biotijolo italiano capaz de absorver o Co2. Se trata de um tipo de tijolo desenhado para capturar as emissões de dióxido de carbono que chegam à atmosfera e ao mesmo tempo para garantir um bom isolamento térmico e acústico, a fim de chegar à possibilidade de construir um ambiente saudável para se viver.

E sabe a polêmica da sacolinha plástica, que os brasileiros não entenderam nada e reivindicaram esse “direito” de tê-las gratuitamente: especialmente no que se refere à produção de plásticos, o cânhamo pode ser considerado uma concreta alternativa ao petróleo, a fim de dar origem ao fim da dependência deste recurso. A celulose contida na planta torna possível a obtenção de materiais plásticos biodegradáveis que podem ser utilizados na produção de embalagens e isolantes. Se desfaz rapidamente na Natureza sem comprometer as próximas gerações, sem ficar matando animais com nosso lixo.



Escrevo tudo isso, porque vejo muita desinformação (é o que mais tem), muita manipulação e muito preconceito e falta de reflexão. Por exemplo, sempre acusam a queima de combustíveis fósseis como maior poluente da atmosfera, colocam que a extração do petróleo é um grande mal, mas é mantido ao mesmo tempo na cabeça dos brasileiros a ideia de nossa autonomia e nossa riqueza tendo uma das maiores empresas petroquímicas do mundo e o pré-sal (sinônimo de destruição, as pessoas não ligam uma coisa a outra...). Se não fosse proibido a maconha poderíamos utilizar o cânhamo como substituto do petróleo, pois pode ser uma riquíssima fonte de biomassa, combustível.



Utilizar o cânhamo como material de partida para a combustão não aumentaria a quantidade de CO2 liberada na atmosfera, uma vez que a emissão de dióxido de carbono durante a combustão seria compensada, a plantação ou cultivo absorveria esses gases, o que o petróleo não pode fazer, só plantas podem sequestrar o carbono. Não me entendam mal, vivemos num mundo de incoerências e ganância e somos marionetes que reproduzem conceitos falaciosos o tempo todo, porque eles nos convenceram, parece tão evidente, temos tanta certeza... mas não é bem assim.



As pessoas vão ainda continuar a consumir produtos de origem animal e dizer que a postura vegana é radical, vão dizer que quem segue pode ter problemas de saúde, vão dizer que seguem o "caminho do meio”, vão até dizer que o mal não é o que entra pela boca (fazendo uso injusto do alto significado das palavras do mestre Jesus), vão criticar e usar as falácias que já correm por aí há séculos, mas estão assim, justificando seu comodismo e destruindo o nosso planeta. 

Então esse papo de cada um faz o que quiser é bastante questionável, respeitar que o outro destrua o planeta que também é “meu” e não poder falar nada porque essa é a opção dele.Então tenho que me calar porque “a escolha é de cada um”, mas a escolha dele está destruindo onde eu moro, onde outros tantos seres moram... é muita ignorância, arrogância, prepotência e mais um monte de palavras nesse sentido. E o mesmo cabe para as pessoas que sustentam a ideia de que uma planta seja do mal, reflita, investigue, não vá engolindo qualquer coisa. Queremos Paz... hun... temos que olhar para isso sim, com olhos limpos e não viciados na retórica de sempre.




Se eu caí no seu conceito por você ter lido isso vindo de mim, veja como está arraigada essa ideia de que pessoas que apoiam isso são ruins. Reveja seus conceitos e preconceitos. Assista “Cortina de fumaça”, "Ilegal", "Sem pena", “Cowspiracy”e leia “Drogas: e a governamentalidade neoliberal” do Dr. Pablo Ornelas Rosa. Se leu até aqui, parabéns! E gratidão, muita Luz e Amor! Sigamos fazendo nosso melhor, buscando máximo de coerência em tudo que envolve nossa vida! Mais Amor.





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